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ENTREVISTA DE JUNHO /2006 - por: Patrícia Nobeschi


A ilustração pode trilhar caminhos inusitados

Anote: um pouco da arte da pintura, acrescente uma pitada do dom de caricaturar, junte elementos gráficos e misture tudo com muita imaginação e criatividade. Sabe qual será o resultado? Um trabalho único e arrojado, desenvolvido pelo artista gráfico eL gUY. Conheça um pouco mais sobre a carreira deste profissional que, entre diversos trabalhos, tem sua arte estampada nas páginas de revistas renomadas.

DL: Quando e como surgiu sua relação com o desenho?

eL gUY: Foi por volta dos 6 anos de idade. Comecei desenhando dinossauros, depois passei a tomar gosto pelos super-heróis japoneses. Aos 9 anos, criava estórias para os meus personagens e montava gibis, sentia a necessidade de construir um mundo, uma atmosfera própria, para cada super-herói. Enquanto meus amigos brincavam na rua, eu trocava qualquer brincadeira para ficar no mundo do desenho. Gostava muito de bonecos, eles me ajudavam a entrar no clima. Lembro-me que minha mãe admirava-se em me ver desenhando e não poupava elogios.

DL: Quando e como percebeu que com esta aptidão poderia se transformar em um profissional da área das artes gráficas?

eL gUY: Eu desenhava e adorava fazer isto, mas não me dava conta da qualidade de meus trabalhos. Quando estava cursando o ginásio, viciei em fazer caricaturas de colegas de classe e professores, criava estórias e montava fanzines (veiculação independente em formato meio ofício). O incentivo dos amigos começou a me abrir os olhos para a hipótese de buscar uma profissionalização nesta área. Participei de alguns concursos de desenhos, promovidos pelo colégio e pela prefeitura, e ganhei alguns prêmios.
Estagiei em uma agência de publicidade e propaganda, pensei em prestar vestibular para o curso de Publicidade, mas os colegas de trabalho me fizeram entender que esta não era minha área. Foi quando resolvi entrar para o curso de Administração de Empresas, pois achava bastante abrangente, depois optaria pela área das artes. Pois é... Só achava... Cursei Administração durante seis meses e, durante esses mesmos seis meses, fiquei ainda mais craque em fazer caricaturas e criar estórias. Não conseguia prestar a menor atenção nas aulas, o desenho era mais forte do que eu.

DL: O que fez para aprimorar sua técnica?

eL gUY: Fiz Desenho Industrial, com ênfase em Artes Gráficas, na Universidade Mackenzie. Durante todo o curso trabalhei com ilustração e animação. No estúdio Start, de Walbercy Ribas, participei do longa metragem Grilo Feliz, era responsáveL pela intervalação (quadros intermediários dos movimentos dos personagens). Passei pelo Maurício de Souza, mas vi que não era a minha área. No estúdio de animação A Rede, atual Animaking, tive a oportunidade de participar da produção de curtas metragem, vídeo clips, storyboard (seqüência de imagens que dará a idéia de todo o trabalho que será realizado) e criação de personagens. Minhas experiências me ajudaram a desenvolver meu estilo de ilustração. Considero que meus trabalhos tenham um pouco de tudo o que aprendi e admiro como, por exemplo, obras de grandes nomes da pintura – Gustav Klimt, Monet, e outros da Arte Noveau e Impressionismo – e traços que lembram caricaturas. Cada personagem que crio vem acompanhado de um contexto próprio, elementos que ajudam a compor o mundo ao qual ele pertence.
Hoje, tenho um estúdio próprio. Atuo em parceria com alguns estúdios, como o Animatório, no desenvolvimento de trabalhos de animação, motion graphics (movimentação de elementos gráficos) e design gráfico. Também faço ilustrações para matérias de colunistas que se destacam em publicações, como a Revista da Folha, UMA, Graffitti, Revista Trip, Vip, Playboy, entre outras.

DL: Como tudo na vida, é claro que o seu trabalho também tem o lado bom e o ruim. Pode falar um pouco sobre cada um deles?

eL gUY: Meu trabalho me traz muita satisfação pessoal, o desenho é o melhor jeito que encontro para me expressar. Para mim, melhor que falar, é desenhar. Através do desenho mostro às pessoas o que penso, no que acredito, quem sou. Porém, nem tudo são flores. O trabalho acaba consumindo a maior parte do meu tempo e, às vezes, me esqueço de dar atenção a coisas que também são muito importantes, como a família.

DL: E em termos financeiros? O que poderia nos contar?

eL gUY: Trabalho há seis anos e ainda não está do jeito que eu queria, mas estou notando um crescimento gradativo. Acho que a arte, às vezes, não é muito valorizada, por não ter parâmetros, mas isso vem mudando e os valores estão se aproximando do que considero justo.

DL: Comente um episódio que tenha acontecido ao longo de sua carreira e que considere merecer destaque.

eL gUY: Vou falar de um momento que aconteceu quando cursava Administração, na FAAP e conseguiu mudar a minha vida. Durante uma aula de Economia, olhava fixamente para o professor, não para entender sobre o que ele falava, mas, claro, para fazer sua caricatura. Estava ali, desligado do mundo, e não percebi que as pessoas atrás de mim riam sem parar. Curioso, o professor veio em minha direção e tirou o caderno de minhas mãos, deu um sorriso discreto e disse: “Acho que você está no curso errado, meu jovem!”. No mesmo instante me perguntei: O que eu estou fazendo aqui? Foi quando decidi parar e mergulhar de vez na área artística.

  eL gUY - Artista gráfico

Dicas do eL gUY...

Ter fé e consciência de que tudo é possíveL quando acreditamos no que fazemos.
Aprender a evoluir com os erros. Tirar deles coisas positivas e reais, ao invés de uma simples passada de mão na cabeça.
Nunca parar de estudar, se informar e buscar novas técnicas e estilos.